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O que aconteceu com o fazer nada?

Diante de tanta conversa sobre aproveitar melhor o tempo, 10 rotinas de pessoas bem sucedidas, não procrastinar etc. e, embora eu realmente faça uso dessas dicas, venho me perguntando: será que todo o nosso tempo precisa ser preenchido com algo produtivo?

Não estou nem sequer falando sobre ócio criativo, porque pra mim esse termo por si só pressupõe que mesmo se você ficar parado, precisa ter por finalidade conceber algo brilhante ao final do seu fazer nada.

 

Estou falando sobre sentar e assistir televisão sem se sentir culpado porque o programa não é culto o bastante e você não aprende nada com ele. Sobre sair e passear no parque sem se culpar porque você não está lendo os seus emails ou porque a casa não está limpa. Sobre dormir até o olho abrir. Sobre ler um romance.

 

Pode parecer que eu estou me contradizendo, mas em primeiro lugar, as coisas que escrevo também são para auto reflexão. Segundo, eu acho que existem dois tipos de conversas sobre tempo: uma quando você realmente quer fazer mais e não sabe como (e aí sim você vai aproveitar as dicas sobre o assunto), e outra que vou chamar de ¨simplesmente estar¨.

 

Vou dar um exemplo: eu sou fã da Pedagogia Waldorf. É um método de ensino que respeita profundamente o ritmo da criança, o seu modo preferido de aprender e o seu tempo de aprender. As crianças aprendem de forma muito orgânica, utilizando elementos do seu entorno e da natureza (terra, madeira), e o aprender se dá brincando, escutando estórias etc. Neste ambiente o brincar tem uma finalidade. Mas quando foi que a criança passou a ter (em casa) a obrigação de brincar com uma finalidade? Quando entrou a patrulha dos brinquedos de madeira, do não poder isso e aquilo, de ser produtivo até mesmo para as crianças?

 

O filósofo Bertrand Russel, no seu livro ¨O elogio ao ócio¨, diz: ¨Se o assalariado comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria bastante para todos, e não haveria desemprego – supondo-se uma quantidade bastante modesta de bom senso organizacional. Essa idéia choca as pessoas abastadas, que estão convencidas de que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer

 

Não quero entrar aqui numa discussão social sobre o papel da elite e da Revolução Industrial sobre a produtividade. O que me interessa é: será que nós sabemos o que fazer quando temos tempo livre? Será que sabemos aproveitá-lo – não no sentido de ¨tornar proveitoso¨, mas no sentido de apreciar, desfrutar?

 

Em outro trecho do livro, Russel diz, ironicamente: ¨´É verdade que meu corpo precisa de horas de descanso, que procuro preencher da melhor forma, mas meu maior prazer é ver raiar o dia para poder voltar ao trabalho, que é a fonte da minha felicidade.’ Nunca ouvi nada do gênero saindo da boca de nenhum trabalhador.¨

 

É claro que estamos falando de um livro publicado em 1939, mas as pessoas para quem essa frase não soa tão irônica, estão sim começando a procurar modelos diferentes de trabalho, que lhes permitam ter mais tempo para viajar, para contemplar e sobre o qual possam dizer: ¨amo o que eu faço¨. Elas passaram a perceber que o trabalho pode sim ser prazeroso e que o controle da quantidade de tempo dedicado ao trabalho pode ser seu. Veja, por exemplo, os Nômades Digitais.

 

Como Coach o que é importante pra mim é que você, primeiro, esteja consciente do que você quer. Se você quer que seu tempo seja produtivo, então eu posso ajudá-lo com ferramentas para isso. Se você quer ter mais tempo livre (e escolher o que fazer com esse tempo, seja estudar, ficar com a sua família ou fazer nada), ok, posso ajudá-lo a alcançar isso. Mas a pergunta é: o que você quer? E a segunda reflexão é: por  que você quer? Foi sua escolha? Você se viu obrigado a fazer algo pelas circunstâncias da vida? Ou por que se comprometeu (ainda que consigo mesmo) a fazer algo e agora não quer voltar atrás? Se você perceber que realmente não escolheu, ou que escolheu mas agora não faz mais sentido, vamos explorar as opções porque, acredite, quase sempre existe outra opção. E se você escolher fazer nada, que fique em paz com isso.

 

Que tal experimentar ¨simplesmente estar¨ no próximo final de semana e compartilhar como foi pra você?

 


Dulcineia Sañtos é Life Coach, certificada pelo NeuroLeadership Group em Londres.

www.dulcineiasantos.com