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Vamos falar sobre a vergonha?

Por Dulcineia Alcock

Pense numa situação em que você tenha sentido vergonha, uma situação atual ou da sua infância, não importa. Você ainda fica corado? O que acontece no seu corpo? Como você se sentiu? inadequado? deslocado? Como isto ainda afeta a sua performance, a sua criatividade? Prefere não falar sobre o assunto?

A escritora Brené Brown, que fez uma pesquisa intensiva sobre vulnerabilidade, descreve a vergonha como sendo o medo de romper um vínculo.

Eu ainda consigo me lembrar de uma negociação com um novo cliente, que vinha me tratando muito bem, até o momento em que ele perguntou: “você fala inglês, certo?” e eu disse que não. Eu podia ver a decepção nos olhos dele, e ele repetiu a pergunta mais uma vez: “você não fala inglês?!”, na frente do meu chefe. Mesmo hoje, falando inglês fluentemente, posso me lembrar do que senti aquele dia – meu rosto queimava. Havíamos nos desconectado e eu não merecia mais a sua admiração.

Nós agimos com o objetivo de suprir nossas necessidades de amor e aceitação, mesmo que não nos demos conta disto num nível consciente. Quando sentimos vergonha, o que está por trás é que acreditamos que não somos mais merecedores de amor e aceitação. Passamos a acreditar que não somos suficientes – bons o suficiente, magros o suficiente, competentes o suficiente.

A vergonha acontece no cérebro límbico, responsável pelas nossas emoções. Para você ter uma ideia da importância de falarmos sobre ela, estudos mostram que a rejeição social estimula as mesmas áreas do cérebro que são ativadas quando sentimos a dor física – ser rejeitado, dói. Sentir vergonha, dói.

Brown faz um paralelo entre a vergonha e a culpa: na culpa, achamos que fizemos algo errado. Na vergonha, achamos que somos errados.

Quais seriam, então, algumas maneiras de lidar com a vergonha e atenuar os seus efeitos?

Bom, o primeiro passo é exatamente o que estamos fazendo aqui – falar sobre ela e entender seus mecanismos. A cada vez que tentamos suprimir um sentimento, o fortalecemos. O que é suprimido fica inconsciente, cresce e é muito mais difícil lidar.

A escritora Julia Cameron, autora do livro “O Caminho do Artista” expressa a importância de compartilhar o que acontece com as pessoas certas – pessoas que oferecerão suporte e empatia.

Um outro passo é mapear a vergonha para reconhecê-la, usando as perguntas feitas no primeiro parágrafo deste texto.

No momento exato em que você sente vergonha, poderá usar um exercício de Neurociência que o ajudará a sair do cérebro límbico e voltar para o neocortex: pense em algo prático: números, planilhas, conte os dias da semana. Encontre uma palavra que poderá dizer a si mesmo quando sentir que entrou neste estado, e use-a como uma espécie de amuleto.

De novo: não suprima o sentimento – simplesmente entre em um estado em que você será capaz de investigar o assunto com certa distância, entendendo o que realmente desencadeou aquela reação. Quando agimos sob a influência do cérebro límbico, entramos em estado de alerta (lutar, fugir, congelar), e a vergonha poderá desencadear outras reações indesejadas, como a agressividade, por exemplo, daí a importância de saímos do estado emocional.

Cameron diz que os antídotos para a vergonha são o amor próprio e o autoacolhimento. Trate a si mesmo como trataria um amigo na mesma situação: com compaixão e entendimento.  Diga a si mesmo que vai ficar tudo bem, e lembre-se de tantas outras vezes em que você foi bem sucedido naquela ou em outra situação.

Lembre-se: mostrar-se vulnerável, ao invés de enfraquecê-lo o fará forte e estabelecerá conexões com as outras pessoas. A vergonha é uma emoção inerente a todos nós, você não está sozinho. Ao contrário, você poderá ajudar outras pessoas ao compartilhar as suas histórias.

Como disse Brown, “nós não somos perfeitos, mas somos suficientes”.

 


Dulcineia Alcock é Life Coach, certificada pelo NeuroLeadership Group em Londres.

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